Erotismo Precoce


As meninas abandonaram as bonecas. Cada vez mais cedo elas querem ir ao salão de beleza, dar o primeiro beijo, sair para a danceteria, colocar um salto alto.

Ao entrar na preadolescência, entre 10 e 12 anos, já se consideram adultas o suficiente para namorar e usar maquiagem. E a mudança vem acompanhada da transformação do corpo: pesquisas realizadas na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil mostram que a idade média da menarca (a primeira menstruação), que no começo do século 20 acontecia entre os 14 e 15 anos, hoje ocorre entre os 10 e 11 anos. O problema é que em tempos de popularização das redes sociais na internet, essas crianças acabam ficando expostas e vulneráveis a vários tipos de aproximação e elas nem sabem do perigo que correm.

“A erotização precoce vem sendo observada há algum tempo na nossa sociedade. De um lado, uma sociedade que valoriza a beleza acima de tudo, a busca pela fama, a necessidade de se mostrar para o mundo, de ser visto e aceito. Do outro, a descoberta do corpo, que antes era feita entre quatro paredes ou no máximo com as amiguinhas no banheiro da escola, agora acontece na internet”, explica a pedagoga Danielle Lourenço, autora do site “Tecnologia responsável”.

A mesma teoria tem o professor Yves de La Taille, pesquisador do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade da Universidade de São Paulo (USP). “As meninas vivem atualmente a ‘cultura da vaidade’, valorizando o ‘ter’ ao invés do ‘ser’. Isso afeta o processo de maturidade. A ‘invisibilidade’, que é terrível na cultura da vaidade, acaba sendo combatida com a superexposição na rede”, avalia o professor.

Mas ao publicar fotos na rede, muitas delas com poses sensuais, elas ficam vulneráveis à aproximação de adultos que nem sempre têm boas intenções com elas.

“Ao colocar uma roupa mais ousada, uma maquiagem mais forte ou uma pose mais ousada para a câmera, simulando as imagens eróticas que elas veem nas revistas, as crianças acabam provocando esses adultos, pois se mostram mais abertas para eles”, diz Danielle. “Conheço o caso de uma menina de 11 anos que estava num bate-papo na internet e foi até a sala pedir uma foto de biquíni para a mãe. A mãe questionou e ela respondeu, inocentemente ‘meu amigo quer me ver de biquíni. Ele disse que está cansado de me ver de roupa’. A mãe foi até o computador e viu que o tal ‘amigo’ tinha 25 anos. Ela teve sorte de a filha ter pedido ajuda, pois muitas crianças acabam mandando a foto sem falar com os pais, pois desconhecem as consequências”, conta Danielle.

Para evitar situações assim, é importante que pais e mães se envolvam na vida dos filhos. “A identidade virtual tem importância de 50% para os adolescentes, a outra metade é identidade social. Hoje os pais pouco interferem na vida social e escolar dos filhos. Mas é importante que olhem as fotos antes que as crianças postem e que ensinem que o que não é correto fazer no mundo real também não o é no mundo virtual”, conclui.

Fonte: Folha Universal