Pecados Secretos: A Solene Culpa


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Agora, João, você acha que não há nada errado em uma coisa até que alguém veja, não é? Sente que é um grande pecado que teu patrão descubra que você está roubando o caixa, mas que não é nada demais se ninguém descobre o seu pecado. E você, senhor, que imagina que é muito grave tua fraude nos negócios se fores descoberto e levado a justiça, mas se não fores descoberto, está tudo bem: Não diga nada a esse respeito, Sr. Spurgeon, se trata de negócios, e não deves se intrometer nos negócios; as fraudes que não são descobertas, não devem representar nenhum problema para você. A medida comum de pecado é a sua notoriedade. Mas eu não acredito nisso. Um pecado é um pecado, se o cometes em segredo ou diante do mundo inteiro.

É curioso como os homens medem a culpa. Um trabalhador da estrada de ferro põe o sinal equivocadamente e ocorre um acidente; o homem é julgado e severamente censurado. No dia anterior também tinha colocado um sinal errado, mas não houve acidente algum e, portanto, ninguém o acusou por seu descuido e relaxamento. Mas foi exatamente o mesmo erro – com acidente ou sem acidente; o acidente não gerou a culpa, mas o ato – mas sem a notoriedade e a repercussão. Era sua responsabilidade ser cuidadoso. E ele é tão culpado na primeira como na segunda vez que, em sua negligência, expôs vidas humanas ao perigo mortal. Não meça o pecado pelo que outras pessoas dizem sobre ele, mas pelo que Deus diz a respeito dele, e como suas consciências protestam contra ele.

Agora, eu sustento que o pecado secreto, em qualquer circunstância, é o maior pecado, porque o pecado secreto implica que o homem que o comete tem aninhado e acalentado o ateísmo em seu coração. Se me perguntarem como pode ser isso? Eu respondo que essa pessoa pode até professar ser um cristão, mas eu lhe direi na sua cara que é um ateu na prática, se se esforça para manter uma profissão respeitável diante dos homens, e transgride em secreto. Diga-me, acaso não é um ateu aquele que diz que há um Deus, mas que ao mesmo tempo se importa mas com os homens do que com Deus?

Não é a própria essência do ateísmo, não é negação da divindade do Altíssimo, quando homens dão pouco valor a Deus e dão máxima importância aos olhos da criatura do que a observação do Criador? Há pessoas que por nada no mundo diriam palavras torpes na frente de um ministro, mas podem dizer normalmente sabendo que Deus está vendo. Esses são ateus. Há alguns que não iriam trapacear nos negócios por nada no mundo se souberem que serão descobertos, mas podem fazê-lo sabendo que Deus vê, isto é, valorizam o olho humano muito mais do que os olhos de Deus; e pensam que é pior ser condenado pelos homens do que ser condenado por Deus. Chame-o como quiserem, mas seu nome correto é ateísmo prático. É uma desonra para Deus; é destroná-lo, é colocá-lo abaixo de suas criaturas. E o que é isso senão negar a sua Divindade?

Irmãos, eu imploro que não incorram na culpa dos pecados secretos. Ninguém pode pecar pouco em secreto, pois certamente cairá em mais pecados. Ninguém pode ser um hipócrita e dizer ter uma falta moderada. Irá de mal a pior, e continuará assim até que sua culpa seja publicada, será então exposto como o pior e mais duro dos homens. Atribuam a mais severa importância a culpa do pecado secreto.

Ah! se eu pudesse falar como Rowland Hill fazia, fazendo as pessoas sentirem que estava falando pessoalmente para elas e as fazerem tremer! Se diz que quando ele pregava, não havia nenhum homem junto a janela que fosse, ou no meio da multidão, ou sentado na galeria, que não falasse: “Hey – é para mim que você está pregando, está falando acerca dos meus pecados secretos”. E quando ele proclamava o onisciência de Deus, é dito que os homens estavam inclinados a acreditar que estavam vendo Deus ‘corporalmente’ entre eles, olhando-os. E quando ele terminou o sermão, escutavam uma voz sussurrando em seus ouvidos: “Pode alguém se esconder, diz o Senhor, em um esconderijo que Eu não veja? Eu não encho, diz o Senhor, o céu e a terra?”

Eu gostaria de poder fazer o mesmo. Fazer com que cada homem olhasse para si e descobrisse seu pecado secreto.

Vamos, irmãos, o que é? Traga-o a luz do dia; talvez ele morra sob a luz do sol. Aquilo que não gostaria se fosse descoberto. Diz agora a tua própria consciência o que é. Olhe em sua face; confesse diante de Deus, e Ele te dará graça para vencer este pecado e qualquer outro, e te levará para Ele em pleno propósito e de todo coração! E eu acrescento isso para ti, que a sua culpa é culpa, se for descoberta ou não, e se existe alguma diferença é para pior, pois é uma culpa maior, porque tem sido secreta. Deus nos livre da culpa do pecado secreto! “Livra-me do que me são ocultos”.