Pecados Secretos: A Miséria




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De todos os pecadores, o homem que faz uma profissão religiosa e ainda vive na injustiça, é o mais miserável. Um ímpio descarado, que toma o copo na mão e diz: “Eu sou um bêbado, e eu não me envergonho disso” – será indescritivelmente miserável no mundo que está por vir, mas teve sua breve hora e momento de prazer. Um homem que diz maldições e blasfêmias e diz: “Este é o meu costume, eu sou um blasfemo”, e faz disso uma profissão, tem ao menos alguma “paz” sem sua alma, mas o homem que anda com o ministro de Deus, que está unido a igreja de Deus, que vai ao povo de Deus e se une a ele, e então vive em pecado, quão miserável deve ser sua vida! Tem uma vida pior do que a do rato que está em seu esconderijo e corre em segredo para pegar migalhas, e em seguida, retorna rapidamente para o seu buraco. Esses homens devem se apressar para o pecado de vez em quando, e Oh Quão temeroso está de ser descoberto! Um dia, talvez, ele mostre o seu caráter, mas com maravilhosa astúcia consegue esconder e disfarçar, mas no dia seguinte algo acontece de novo, e vive então em constante medo, dizendo mentira após mentira, fazendo com que a última seja convincente, acrescentando engano a engano para que os outros não descubram.
“Oh, é uma amaranhada teia que tecemos, Quando uma vez nos aventuramos a enganar”
Se eu vou ser ímpio, levarei a vida de um pecado fanfarrão, que peca diante da face do dia; mas, se peco, não vou agir como um hipócrita e um covarde. Não vou professar ser de Deus, enquanto passo a vida com o diabo. Essa truque do diabo é algo que todo o pecador “honesto” deveria se envergonhar. Ele dirá: “Agora, se eu verdadeiramente sirvo ao meu senhor, lhe servirei de forma declarada, e não fingir a respeito disso; se faço um profissão, a cumprirei; mas se não faço, se vivo em pecado, não vou escondê-lo por meio da hipocrisia e falsidade”. Algo que tem paralisado a igreja e que tem partido o seu vigor, é a mais infame hipocrisia. Ah, em quantos lugares há homens a quem poderíamos louvar até o próprio céu, se crêssemos em suas palavras, mas que nos jogariam no próprio inferno se pudéssemos ver suas ações secretas. Que Deus conceda perdão a qualquer um que esteja agindo assim.

Eu quase diria que dificilmente poderia perdoá-lo. Eu posso perdoar um homem que se entrega ao pecado abertamente e não professa ser melhor. Mas um homem que adula, que fala com engano, e simula, e ora, enquanto vive em pecado, a esse homem eu desprezo, não posso suportá-lo, o aborreço com minha alma. Se abandonasse esse caminho, o amaria, mas em sua hipocrisia, é para mim a mais desprezível de todas as criaturas.

Há um conto que diz que um sapo leva na verdade uma jóia em sua cabeça, mas este homem não tem nenhuma, mas carrega imundícia simulando estar amando a justiça. Uma mera profissão, meus senhores, não é nada mais que uma maquiagem ostensiva de quem está indo para o inferno, é como as plumas no carro fúnebre levado por cavalos negros que arrastam os homens a suas tumbas. Cuidem-se, acima de todas as coisas, de uma profissão feita de cera que não resiste aos raios do sol; evite uma vida que necessita de duas caras; deves ser uma coisa ou outra. Se decidires servir Satanás, não finja servir a Deus, mas se pretendes servir a Deus; O sirva de todo o coração. “Ninguém pode servir a dois senhores”; não insista nisso, pois não existe uma vida mais miserável que essa. Acima de todas as coisas, evite qualquer ato que seja necessário ser escondido.

Há um singular poema escrito por Hood, chamado “O Senhor de Eugenio Aram, uma poesia notável que ilustra bem o ponto que estou querendo fixar em suas mentes. Aram matou um homem e jogou o seu corpo num rio. “Uma lenta corrente, negra como tinta, profunda ao extremo”. No dia seguinte vai visitar a cena do seu crime:

“Eu busco o negro poço maldito, Com um olhar desconfiado e receoso; E ele viu o morto no leito do rio, Pois o infiel curso estava seco”.
Em seguida, ele cobriu o cadáver com muitas folhas, mas um vento forte varreu a floresta deixando seu segredo exposto ao sol;
“Então eu caí de rosto em terra, E pela primeira vez comecei a chorar, Pois descobri que meu segredo era tal Que a terra recusou guardar, Em terra ou no mar, onde quer que fosse Mesmo a dez mil metros de profundidade.”
Ele profetiza que será descoberto com notas melancólicas. Ele enterrou sua vítima em uma cova cobriu com pedras, mas quando os anos completaram sua cansada ronda, o fato macabro foi descoberto e o assassino foi executado.

A culpa é um “mordomo sinistro”, e tem seus dedos estão manchados de sangue. Os pecados secretos trazem olhos febris e noites sem dormir, até que os homens destroem e apagam suas consciências, mas se tornam maduros para a sepultura. A hipocrisia é um jogo difícil de se jogar, pois deve enganar a muitos observadores; e certamente é uma troca miserável que nos conduzirá a um fim, com seu grande clímax numa precisa falência total. Ah! – você que pecou sem serem descoberto, “tenha certeza que seu pecado há de encontrá-lo”; e pode ter certeza que encontrarão antes que passe muito tempo. O pecado, como o assassinato, será descoberto; os homens contam suas histórias até em seus sonhos. Deus tem picado muitas vezes os homens em suas consciências, até que foram obrigados a confessar a sua história.

Pecado secreto! Se quiser um prenúncio da condenação aqui na terra, continue com teus pecados secretos, pois nada é mais miserável que o homem que peca secretamente e trata de tentar preservar a sua imagem. Um cervo perseguido por cães sangrentos com suas bocas abertas, é muito mais feliz do que o homem que é perseguido por seus pecados. Aquele pássaro preso no laço do passarinheiro lutando para escapar, é muito mais feliz do que aquele que se tem enredado na rede do engano e se esforça pra escapar dela todos os dias se esforçando ao máximo, e ela se torna mais forte a cada dia. Ah, a miséria dos pecado secretos! De fato tu podes orar agora: “Livra-me dos que me são ocultos”.